Por Ana Chagas
No
decorrer dos séculos, desde que Deus revelou as Escrituras, tem havido diversos
métodos de estudar a Palavra de Deus. Os intérpretes mais ortodoxos têm valorizado
a importância de uma interpretação literal. Outros têm empregado um método
alegórico, e ainda outros têm examinado letras e palavras tomadas
individualmente como possuindo significado secreto que precisa ser decifrado.
Uma
visão histórica dessas práticas nos capacita a vencermos a tentação de crer que
o nosso sistema de interpretação é o único que já existiu. Um entendimento dos
pressupostos de outros métodos proporciona uma perspectiva mais equilibrada e
uma capacidade para um diálogo mais significativo com os que crêem de modo
diferente.
Pela
observação dos erros já cometidos por outros durante todo este período, podemos
conscientizar-nos mais dos possíveis perigos quando somos tentados de maneira
semelhante; e vemos também que muitos dos grandes cristãos, como Orígenes,
Agostinho e Lutero entenderam e receitaram princípios hermenêuticos melhores do
que os que eles mesmos praticaram.
EXEGESE
JUDAICA ANTIGA
Um
estudo da história da interpretação bíblica começa, em geral com a obra de
Esdras (Ne 8.8) “Leram no Livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações,
de maneira que entendessem o que se lia.”
Os
escribas que vieram a seguir tiveram grande cuidado em copiar as Escrituras,
crendo que cada letra do texto era a Palavra de Deus inspirada.
No
tempo de Cristo, a exegese judaica podia classificar-se em quatro tipos
principais: literal, midrástica, pesher, e alegórica.
O método literal de interpretação,
referido como peshat, evidentemente servia de base para outros tipos de
interpretações. A interpretação
midrástica incluía uma variedade de dispositivos hermenêuticos que se
haviam desenvolvido de maneira considerável no tempo de Cristo e continuaram a
desenvolver-se ainda por diversos séculos. O Rabi Hillel, cuja vida antecede a
ascensão do cristianismo por uma geração ou tanto, é considerado como o
elaborador das normas básicas da exegese rabínica que acentuava a comparação de
ideias, palavras ou frases encontradas em mais de um texto, a relação de
princípios gerais com situações particulares, e a importância do contexto na
interpretação. Contudo, teve continuidade a tendência no sentido de uma exposição
mais fantasiosa em vez da conservadora. Isto resultou numa exegese que dava
significado a textos, frases e palavras sem levar em conta o contexto no qual
se tencionava fossem aplicados; combinava textos que continham palavras ou
frases semelhantes, sem considerar se tais textos referiam-se à mesma ideia; e
tomava aspectos incidentais de gramática e lhes dava significação
interpretativa. A interpretação pesher
existia particularmente entre as comunidades de Qunran. Esta forma emprestou
extensivamente das práticas midrásticas, mas incluía um significativo enfoque
escatológico. A comunidade acreditava que tudo quanto os antigos profetas
escreveram tinha significado profético velado que devia ser iminentemente cumprido
por intermédio de sua comunidade do pacto. A
exegese alegórica baseava-se na ideia de que o verdadeiro sentido jaz sob o
significado literal da Escritura. Historicamente, o alegorismo foi desenvolvido
pelos gregos para reduzir a tensão entre sua tradição de mito religioso e sua
herança filosófica. Filão, (judeu c. 20 a.C. – c. 50 d.C.) acreditava que o
significado literal da Escritura representava um nível imaturo de compreensão;
o significado alegórico era para os maduros. Devia-se usar a interpretação alegórica
em dez casos específicos, dentre os quais, os critérios 3 e 10 são indicações
válidas de que o autor tencionava que seu escrito fosse entendido como
alegoria.
O
USO DO ANTIGO TESTAMENTO PELO NOVO
Aproximadamente
10% do Novo Testamento constitui-se de citações diretas, de paráfrases do
Antigo Testamento ou de alusões a ele. Dos trinta e nove livros do AT, apenas
nove não são expressamente mencionados no Novo. Como consequência, um
significativo corpo de literatura exemplifica os métodos interpretativos de
Jesus e dos escritores do Novo Testamento.
O
USO QUE JESUS FAZ DO ANTIGO TESTAMENTO
A
partir de um exame do uso que Jesus fazia do AT, podemos chegar a algumas
conclusões: 1) Ele foi uniforme no tratar as narrativas históricas como
registros fiéis do fato; 2) Quando Jesus fazia aplicação do registro histórico,
ele o extraía do significado normal do texto, contrário ao sentido alegórico;
não demonstrou tendência alguma para dividir a verdade escriturística em níveis
– um nível superficial baseado no significado literal do texto e uma variedade
mais profunda baseada em algum nível místico; 3) Ele denunciou o modo como os
dirigentes religiosos haviam desenvolvido métodos causísticos que punham à
parte a própria Palavra de Deus que eles alegavam estar interpretando, e no
lugar delas colocavam suas próprias tradições; 4) os escribas e fariseus, por
mais que quisessem acusar a Cristo de erro, nunca o acusaram de usar qualquer
Escritura de modo antinatural ou ilegítimo; 5) quando Jesus, vez por outra,
usou um texto de um modo que nos parece antinatural, geralmente se tratava de
legítima expressão idiomática hebraica ou aramaica, ou padrão de pensamento que
não se traduz diretamente para a nossa cultura e nosso tempo. O uso que o Novo
Testamento faz do Antigo, os quais provavelmente suscitam a máxima questão com
referência à sua legitimidade hermenêutica, são as passagens de cumprimento.
O
USO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO ANTIGO TESTAMENTO
Os
apóstolos acompanharam seu Senhor, e consideraram o AT como a Palavra de Deus
inspirada (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21). Em cinquenta e seis casos, pelo menos, há
referência explícita a Deus como o autor do texto bíblico. À semelhança de
Cristo, eles aceitaram a exatidão histórica do AT(At 7.9-50; 13.16-22; Hb 11). A
elevada estima com a qual os escritores do NT consideraram o AT sugere
fortemente que não teriam, de um modo consciente ou intencional, interpretado
mal as palavras que acreditavam ter sido proferidas pelo próprio Deus. Embora
tendo dito isso, geralmente surgem diversas perguntas a respeito do uso que
fizeram do Antigo Testamento os escritores do Novo; como: 1) Ao citar o AT, com freqüência o Novo
modifica o fraseado primitivo. Como se pode justificar hermeneuticamente tal
prática? Após análise, verifica-se que o fato de que os escritores
neotestamentários às vezes parafrasearam ou citaram indiretamente o AT não
indica, de forma alguma, que usaram métodos interpretativos ilegítimos. E 2) O Novo Testamento parece usar partes do AT
de modo antinatural. Como se justifica hermeneuticamente esta prática? Acerca
desta segunda questão, verifica-se que estes poucos exemplos podem ser
resolvidos à medida que entendemos mais plenamente os métodos interpretativos
dos tempos bíblicos. Assim, o próprio NT lança a base para o método histórico-gramatical
da moderna hermenêutica evangélica.
EXEGESE
PATRÍSTICA
A
despeito da prática apostólica, uma escola de interpretação alegórica dominou a
igreja nos séculos que se sucederam. Esta alegorização derivou-se de um
propósito digno – o desejo de entender o AT como documento cristão. Contudo, o
método alegórico segundo praticado pelos Pais da igreja muitas vezes
negligenciou por completo o entendimento de um texto e desenvolveu especulações
que o próprio autor nunca teria reconhecido. Uma vez abandonado o sentido que o
autor tinha em mente, conforme expresso por suas próprias palavras e sintaxe,
não permaneceu nenhum princípio regulador que governasse a exegese. Clemente de Alexandria (c. 150 – c.
215) acreditava que as Escrituras ocultavam seu verdadeiro significado a fim de
que fôssemos inquiridores, e também porque não é bom que todos a entendam. Ele
desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligados à Escritura
(histórico, doutrinal, profético, filosófico, e místico), com as mais profundas
riquezas disponíveis apenas aos que entendem os sentidos mais profundos. Orígenes (185? – 254?) foi o notável
sucessor de Clemente. Ele cria ser a Escritura uma vasta alegoria na qual cada
detalhe é simbólico, e dava grande importância a 1 Co 2.6-7. Ele acreditava que
assim como o homem se constitui de três partes – corpo, alma e espírito – da
mesma forma a Escritura possui três sentidos; o corpo é o sentido literal, a
alma o sentido moral, e o espírito é o sentido alegórico ou místico. Todavia,
na prática, Orígenes menosprezou o sentido literal, raramente se referiu ao
sentido moral, e empregou constantemente a alegoria, uma vez que só ela
produzia o verdadeiro conhecimento. Agostinho
(354 – 430) foi, de longe o maior homem de sua época. Em seu livro sobre a
doutrina cristã ele estabeleceu diversas regras para exposição da Escritura,
algumas das quais estão em uso até hoje. Na prática, porém, Agostinho renunciou
à maioria de seus princípios e inclinou-se para uma alegorização excessiva. Ele
cria que a Escritura tinha um sentido quádruplo – histórico, etiológico,
analógico e alegórico. Esta opinião predominou na Idade Média. Na teoria ele
sistematizou muitos princípios de exegese sadia, mas na prática, deixou de
aplicar esses princípios em seu estudo bíblico.
A
ESCOLA DE ANTIOQUIA DA SÍRIA
Um
grupo de eruditos em Antioquia da Síria tentou evitar o “letrismo” dos judeus e
o alegorismo dos alexandrinos. Defendiam que o maior zelo o princípio da
interpretação histórico-gramatical, isto é, que um texto deve ser interpretado
segundo as regras da gramática e dos fatos da história. Evitavam a exegese
dogmática, asseverando que uma interpretação deve ser justificada por um estudo
de seu contexto gramático e histórico, e não por um apelo à autoridade. Criticavam
os alegoristas por lançarem dúvida na historicidade de muita coisa do Antigo
Testamento.
EXEGESE
MEDIEVAL (600 - 1500)
Pouca
erudição teve origem na Idade Média; a maior parte dos estudantes da Bíblia
devotava-se a estudar e compilar as obras dos Pais primitivos. A interpretação
foi amarrada pela tradição, e o que se destaca era o método alegórico. O
sentido quádruplo da Escritura engendrado por Agostinho era a norma para a
interpretação bíblica (a letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram; a
alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé; o significado moral dá-nos as
regras da vida diária e a anagogia mostra-nos onde terminamos nossa luta).
Embora predominasse este método, outros métodos estavam sendo desenvolvidos, e
os cabalistas na Europa e na Palestina continuaram na tradição do primitivo
misticismo judaico. Entre alguns grupos, porém, estava em voga um método de
interpretação mais científico. Os judeus espanhóis dos séculos XII e XV
incentivaram o retorno ao método de interpretação histórico-gramatical. Nos
séculos XIV e XV predominava profunda ignorância no que concerne ao conteúdo da
Escritura; alguns doutores de teologia
nunca haviam lido a Bíblia toda. A Renascença chamou a atenção para a
necessidade de conhecer as línguas originais a fim de entender-se a Bíblia. Erasmo facilitou este estudo ao publicar a primeira
edição de crítica ao NT grego, e Reuchlin com sua tradução de uma gramática e
léxico hebraicos. Foi se estabelecendo então, que a Escritura tem apenas um
único sentido. Lutero (1483 – 1546)
acreditava que a fé e a iluminação do Espírito eram requisitos indispensáveis
ao intérprete da Bíblia; que a Bíblia devia ser vista com olhos inteiramente
distintos daqueles com os quais vemos outras produções literárias. Lutero sustentava que a Igreja não deveria
determinar o que as Escrituras ensinam; pelo contrário, as Escrituras é que
deveriam determinar o que a Igreja ensina. Chamou o método alegórico de
interpretação da Escritura de “sujeira”, “escória” e de “um monte de trapos
obsoletos”. Ele acreditava que a Bíblia é um livro claro (a perspicuidade da
Escritura), contrariamente ao dogma católico romano de que as Escrituras são
tão obscuras que somente a igreja pode revelar seu verdadeiro significado. Quer
concordemos, quer não, com todas as
designações de Lutero, seu princípio cristológico o capacitou a demonstrar a
unidade da Escritura sem apelação para a interpretação mística do texto do AT.
Ele acreditava que o reconhecimento e a manutenção cuidadosa da distinção entre
Lei-Evangelho eram decisivos ao entendimento adequado da Bíblia. Melanchton, companheiro de Lutero em
questões de exegese, continuou a aplicação dos princípios hermenêuticos de
Lutero em suas exposições do texto bíblico, sustentando e aumentando o impulso
da obra de Lutero. Calvino (1509 –
1564), o maior exegeta da Reforma, concordava, em geral, com os princípios
articulados por Lutero. Sua sentença favorita era “A Escritura interpreta a Escritura”. Ele declarou certa vez: “a primeira tarefa de um intérprete é deixar
que o autor diga o que ele de fato diz, em vez de atribuir-lhe o que pensa que
ele vai dizer”. Calvino, provavelmente superou a Lutero em harmonizar suas
práticas exegéticas com sua teoria. Os princípios hermenêuticos sistematizados
por estes dois reformadores tornaram-se os grandes princípios norteadores para
a moderna interpretação protestante ortodoxa.
EXEGESE
PÓS-REFORMA (1550 – 1800)
Confessionalismo- O
Concílio de Trento reuniu-se em várias ocasiões de 1545 a 1563 e elaborou uma
lista de decretos expondo os dogmas da igreja católica romana e criticando o
protestantismo. Os protestantes reagiram com o desenvolvimento de credos que
definiam sua posição. Os métodos hermenêuticos durante este período freqüente
eram deficientes porque a exegese se
tornou uma criada da dogmática, e muitas vezes degenerou-se em mera escolha de texto para comprovação.
Pietismo- Surgiu
como reação à exegese dogmática e
muitas vezes amarga do período confessional. Philip Jakob Spener (1635 – 1705)
é considerado o líder do reavivamento pietista. Ele pedia em um de seus
folhetos o fim da controvérsia inútil, o retorno ao interesse cristão mútuo e
às boas obras; melhor conhecimento da Bíblia por parte dos cristãos, e melhor
preparo espiritual para os ministros. Muitos
pietistas mais recentes descartaram a base de interpretação
histórico-gramatical, e passaram a depender de uma “luz interior” ou de “uma
unção do Santo”.
Racionalismo- Posição
filosófica que aceita a razão como a
única autoridade que determina as opções ou curso de ação de alguém, este
modo de pensar viria causar profundo efeito sobre a teologia e a hermenêutica.
Durante
o período que se seguiu à Reforma, o uso magisterial da razão começou a emergir
mais plenamente como nunca antes. Surgiu
o empirismo, crença de que o único
conhecimento válido que podemos possuir é o obtido através dos cinco sentidos,
e aliou-se ao racionalismo.
HERMENÊUTICA
MODERNA (1800 ATÉ O PRESENTE)
Liberalismo-
o racionalismo filosófico lançou a base do liberalismo teológico. Ao passo que
nos séculos anteriores a revelação havia
determinado o que a razão devia pensar, no final do século XIX a razão determinava que partes da revelação
(se houvesse alguma) deviam ser aceitas como verdadeiras; o foco agora era
a sua autoria humana. O escritor
Schleimacher foi além, negando
totalmente o caráter sobrenatural da Inspiração. Para muitos destes
escritores a inspiração agora referia-se à capacidade da Bíblia (produzida
humanamente) de inspirar experiência religiosa. Os racionalistas alegavam que
tudo que não estivesse conforme a “mentalidade instruída” devia ser rejeitado.
Isto incluía doutrinas como a depravação humana, o inferno, o nascimento
virginal, e com freqüência, até a expiação vicária de Cristo. Os milagres e
outros exemplos de intervenção divina eram regularmente explicados de forma
satisfatória como exemplos de pensamento pré-crítico. Era freqüente a mudança
do próprio foco interpretativo: a
pergunta já não era “Que é que Deus
diz no texto?” e sim “Que é que o texto me diz a respeito do desenvolvimento da
consciência religiosa deste primitivo culto hebraico?”.
Neo-ortodoxia-
é um fenômeno do século XX, e ocupa, em alguns aspectos, uma posição
intermediária entre os pontos de vista liberal e ortodoxo. Rompe com a opinião
liberal de que a Escritura é tão-só produto do aprofundamento da consciência
religiosa do homem, mas detém-se antes de chagar à perspectiva ortodoxa da
revelação. Sustentam que Deus não se revela em palavras, mas apenas por sua
presença e que, quando alguém lê as palavras da Escritura e reage com fé à
presença divina, ocorre a revelação. A
infalibilidade ou inerrância não têm lugar no vocabulário neo-ortodoxo. As
histórias bíblicas da interação entre o sobrenatural e o natural são vistas
como mitos – não no mesmo sentido dos mitos pagãos, mas no sentido de que não
ensinam história real. Os “mitos” bíblicos (como a criação, a queda e a ressurreição)
visam a apresentar verdades teológicas na forma de incidentes históricos.
A “Nova hermenêutica”-
Uma criação européia a partir da Segunda Guerra Mundial. Emergiu basicamente da
obra de Bultmann e foi levada
adiante por Ernst Fuchs e Gerhard Ebeling. A linguagem, dizem
eles, não é realidade, mas apenas uma interpretação pessoal da realidade. Para
eles, a hermenêutica é uma investigação
da função hermenêutica da fala como tal, e assim tem um raio de ação muito mais
amplo e mais profundo.
A Hermenêutica no Cristianismo
Ortodoxo- Durante os últimos 200 anos continuou a haver
intérpretes que criam que a Escritura representa a revelação que Deus faz de si
próprio – de suas palavras e de suas ações – à humanidade. A tarefa do
intérprete, no entender deste grupo,tem sido procurar compreender mais
plenamente o significado intencional do primitivo autor. Empreenderam-se estudos da história, da cultura, da língua e da
compreensão teológica que cercam os primitivos beneficiários, a fim de que se
entenda o que a revelação bíblica significava para esses beneficiários.
O que podemos concluir ao
analisarmos todo este processo que ocorreu em relação à
interpretação das Escrituras Sagradas? O que acontece todas as vezes que alguém interpreta as Escrituras sem o uso legítimo da Hermenêutica?
Devemos
ter cuidado ao aplicar o nosso “achismo” ao lermos a Bíblia, pois ela É o que É:
A Revelação Especial de Deus, por meio da qual Deus desvenda aos olhos do
homem, de maneira progressiva, o seu plano redentivo para o homem. A razão jamais poderá assumir supremacia sobre aquilo que já foi revelado por Deus em Sua Palavra. Não podemos
partir de pressupostos aleatórios, criados pela nossa imaginação ou experiência
espiritual pessoal, mas devemos buscar o norte nas regras básicas da
Hermenêutica.
Alguns
têm trazido à existência diversos erros teológicos, e até fundado seitas e “igrejas”
a partir de textos que tomaram de forma isolada e interpretaram a seu
bel-prazer. Há também aqueles que usam versículos bíblicos isolados e mal
interpretados para embasar sua vida de prática deliberada de pecado diante de
Deus. Outros sofrem por pensar que perderam a salvação por voltarem a pecar
mesmo depois de regenerado, por interpretar mal certos versículos das
Escrituras. É necessário que cada obreiro, que cada crente busque utilizar a
hermenêutica constantemente em seus estudos da Palavra de Deus, e não apenas em
período em que se encontra no seminário, mas que isto seja uma prática comum no
meio dos cristãos; para que possam estar aptos a instruir de forma correta,
para que possam ajudar um irmão que está sofrendo algo desta natureza, ou mesmo
abrir os olhos aos que estão sendo tentados à apostasia, ou a serem levados por
ventos de doutrinas anti bíblicas.
Ao
tentar trazer a linguagem da Bíblia o mais próximo possível à nossa
compreensão, muitos acabaram criando uma paráfrase da mesma, e não uma
interpretação fiel. Esta busca de aproximar as verdades bíblicas do nosso
contexto atual deve ser feita com total fidelidade, em santo temor, sem
contemplar as nossas próprias visões doutrinárias, mas o que verdadeiramente o
autor disse e o que verdadeiramente Deus disse; e para vencermos os diversos abismos que surgem na busca da
compreensão da mensagem bíblica, como o abismo histórico, o abismo cultural, a
diferença linguística e a lacuna filosófica é imprescindível que recorramos ao
uso da hermenêutica.
Não podemos nos esquecer de que a Bíblia não é um
livro comum, e de que, por se tratar da transmissão da mensagem divina, requer
fidelidade na sua interpretação e exposição.
O Senhor procura servos fiéis, despenseiros fiéis, embaixadores
fiéis, arautos fiéis, que dão o alimento correto às Suas ovelhas; às quais Ele
arrebanha ao longo de toda a história da humanidade. E fazendo assim, ao
chegarem à sua presença, certamente ouvirão dele o bem-vindo: “Servo bom e
fiel, entra no descanso do teu Senhor!”
Fonte bibliográfica:
VIRKLER, Henry.
Hermenêutica Avançada. São Paulo. Editora Vida.2007.